"Where is the Life we have lost in living? Where is the wisdom we have lost in knowledge? Where is the knowledge we have lost in information?"
(T. S. Eliot, The Rock, 1934)
Escritas há quase cem anos, ainda no início da idade da informação, as palavras do grande poeta ressoam uma desilusão que desde então não deixou de se acentuar. A qual, particularmente neste momento, onde à delirante guerra da Ucrânia se acaba de juntar o não menos insano ataque do Hamas, quasi só se pode ouvir como uivo ou agonia.
Apenas antecedidas, quatro anos antes, por O Mal Estar na Civilização, e sete anos anos antes, 1927, por O Futuro de Uma Ilusão, ambos de S. Freud, constituem uma trilogia que dá conta de há já muito se aperceber uma inquietação, cuja inércia do movimento moderno tem evitado pensar. Mas o ignorar só pode conduzir à ignorância, a qual está destinada a falhar dada a pungência do quotidiano tardo-moderno.
A psicologia clínica, e mormente a psicoterapia psicanalítica, mais que uma coisa que se faz nos gabinetes dos espaços da saúde mental é uma atitude de escuta e indagação que se justifica sempre que se trata de comportamento humano. Não é o local nem o objecto que a definem, mas sim essa atitude treinada, teoricamente sustentada e sempre alicerçada no escrutínio pessoal do seu agente.
Lembro-me de, por mais de uma vez, ter ouvido Carlos Amaral Dias afirmar que, não obstante a publicação em 1895 de Estudos Sobre a Histeria, e em 1899 de A Interpretação dos Sonhos, ser com A Psicopatologia da Vida Quotidiana, de 1901, que Freud alcança uma teoria geral do comportamento, uma psicologia, um para além do esclarecimento dos mecanismos do sub-conjunto dos neuróticos [acrescentar-lhe-ia, por idiossincrasia, O Chiste e suas Relações com o Inconsciente]
Espero que os parágrafos anteriores tenham justificado porque um espaço de comunicação e reflexão em psicologia, como se pretende este Disseminário, deva extravasar dos perímetros dos consultórios. É-lhe natural e necessário, pois se Seminário é um viveiro de sementes, com o que isso implica de cuidados e melhoramentos, Disseminar trata de um espalhar, de um derramar – tem muito de cornucópia e trans-bordamento, tal como tem muito de antípoda de cantos e recantos, úteis apenas para o desenvolvimento dos bolores.
Regressando à citação em epígrafe; justifica-se uma atitude que aspire criar conhecimento a partir da informação e sabedoria a partir do conhecimento, o seu nome e topónimo são Disseminário R&D.
P.S.: - Apenas dois apontamentos quanto à vida perdida no viver:
i) não sei de viva vivida que não seja um perdimento;
ii) que o cauto leitor tome o anterior como garantia que não pretendemos educar, instruir ou adestrar, isso é para os que, certos e seguros, não perdem na vida senão o viver.
Pronto para perder duas horas no nosso Disseminário?
Luís Sousa Ribeiro
Moderador do Disseminário R&D
27 de Out 2023 sexta - 17:30h Lisboa Palácio do Beau-Séjour, Estr. de Benfica 368, 1500-100 Lisboa, Portugal |
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